domingo, 27 de dezembro de 2015

ENSAIO : Mariana Coelho, Uma Educadora Feminista Luso-Brasileira

PEQUENO ENSAIO
Sobre
" MARIANA COELHO
Uma educadora feminista Luso-Brasileira"
de
Aires Antunes Diniz



De autoria de Aires Antunes Diniz e com o apoio da Câmara Municipal de Sabrosa, chegou à estampa em setembro deste ano de 2015, com 284 páginas, a obra " Mariana Coelho - Uma educadora feminista Luso-Brasileira ".
Que reflexão farei sobre a mesma, questiono-me.
Diniz evidencia uma escrita ampla, fundamentada em investigação profunda, escorreita, atrativa, que dá gosto ler e o querer conhecer mais sobre Mariana Coelho. Dinis escreve bem. Um bom português, uma linguagem clara, personalizada, desenvolvida e motivadora.
Chegamos ao fim da leitura com a sensação de que a história desta educadora feminista não está completa, ou melhor, encontra-se inacabada e, com toda a certeza, muito mais haveria para dizer quer da sua vida em Portugal, quer da sua vida após a emigração para o Brasil, até à sua morte, aos 97 anos de idade.
É certo que poderão ter sido vistas e analisadas pelo autor todas as fontes que encontrou, disso não tenho dúvidas, dado o seu rigor na investigação científica. Porquê então esta sensação de incompletude? Aliás, como refere Diniz na nota de Apresentação, pág.18, 1º e 2º parágrafos, no que se refere á colaboração de Mariana Coelho em jornais portugueses, escreve: "Fizemos o que era possível para explicar esta partida com base nos arquivos portugueses, mas não conseguimos encontrar a colaboração de Mariana Coelho nos jornais portugueses de 1887, quando começou a publicar, a 1892, ano em que partiu para o Brasil. Falta agora estudar os arquivos brasileiros de Curitiba e os jornais onde ela e o irmão colaboraram ou lideraram. Mas isso fica para quem está do outro lado do Atlântico". (Aqui refere-se a Leonardo Iorio, sobrinho trineto de Mariana Coelho).
Com efeito, das 250 páginas de texto, dois terços são dedicados á crise do Douro pela invasão da filoxera em finais do século 19, e, só um terço a Mariana Coelho, à origem da sua família em Vila Real, Sabrosa ou Lamas de Orelhão, Mirandela, e, à sua vida em Curitiba para onde emigrou em 1892 como seu irmão mais velho, Carlos Alberto Teixeira Coelho (1866-1926), e família deste.
Foi professora e educadora, fundando em 1902, 10 anos após a sua chegada a Curitiba, o Colégio Santos Dumont, escola de ensino primário e secundário, que prepara alunos para acesso à Escola Normal e ao Ginásio.
Foi escritora, poetisa, anarquista, socialista, maçónica e espiritista.
O Feminismo, sua evolução e emancipação da mulher nas suas diversificadas vertentes interventivas e a defesa da natureza, animais e plantas, foram os grandes pilares da sua escrita em fase já de adultidade, pois começou a publicar em 1887, tinha então 30 anos.
Seguidora das ideias de Jacques Novicow, sociólogo francês, membro e vice-presidente do Instituto Internacional de Sociologia, e de Sampaio Bruno, aliás, José Pereira Sampaio, diretor da Biblioteca Municipal do Porto, no que concerne à emancipação da mulher, mas não as relativas ao amor livre. Concordava com o socialismo nos valores que defendia pela autonomia e dignidade da mulher.
Viveu Mariana Coelho uma vida longa (1857-1954) de saudades, no início, da sua vida em Portugal, mas do seu saber adquirido, levou consigo a força de vencer em terras brasileiras onde se emancipou e desenvolveu uma intensa actividade docente, social, literária e política.
A emigração, a que se viu forçada a sua família pela crise agrícola (filoxera), económica e social da região duriense, contexto histórico marcante da sua vida, pela falência da Quinta de Valcovo, Santa Comba da Ermida, sita nas margens do rio Corgo, património rural de sua mãe, Maria do Carmo Teixeira, pela quebra de rendimentos agrícolas que a impediu de honrar os seus compromissos, bem assim a morte de seu pai em 1882, Manuel António Ribeiro Coelho, farmacêutico e grande agricultor de Sabrosa, contribuíram indubitavelmente para as suas ideias feministas e anarquistas, envoltas de uma simbiose revoltosa que passou para a sua atividade política e literária.
Em 1949, Mariana Coelho referia como escritos por si os seguintes livros: Discursos; Paraná Mental (cuja 2ª edição o autor leu, e editado pela Imprensa Oficial do Paraná, Curitiba);  Evolução do Feminismo: Subsídios para a sua história, editado em 1933 pela Imprensa Moderna, Rio de Janeiro e que Mariana escreveu aos 76 anos; Um brado de revolta contra a morte violenta; Linguagem (Tese que apresentou no Congresso das Academias de Letras e Sociedades de Cultura Literária do Brasil); "Cambiantes", Contos e Fantasias, livro mais de carácter intimista; e Palestras Educativas.
Por último, quero lançar um repto a Aires Antunes Diniz: Não escreverei uma única linha sobre a Filoxera e a Crise da Vinha no Douro e em Portugal nos finais do século 19, princípios do século 20, tema deveras importante para se consignar a ser subalterno neste livro.
Por mim, optaria por 2 obras distintas: uma, sobre Mariana Coelho, aproveitando os capítulos nºs 1, 6 e 7 desta sua obra a que acrescentaria mais elementos analíticos dos livros escritos por Mariana Coelho e o seu pensamento; outra, sobre a Filoxera e a Crise da Agricultura no Douro e em Portugal, que tão bem e pormenorizadamente descreve nas restantes páginas deste seu livro.
Boa escrita, pois!

Bragança, dezembro de 2015

Maria Idalina Alves de Brito

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