PEQUENO ENSAIO
Sobre
" MARIANA COELHO
Uma educadora feminista Luso-Brasileira"
de
Aires Antunes Diniz
De autoria de Aires Antunes Diniz
e com o apoio da Câmara Municipal de Sabrosa, chegou à estampa em setembro
deste ano de 2015, com 284 páginas, a obra " Mariana Coelho - Uma
educadora feminista Luso-Brasileira ".
Que reflexão farei sobre a mesma,
questiono-me.
Diniz evidencia uma escrita
ampla, fundamentada em investigação profunda, escorreita, atrativa, que dá
gosto ler e o querer conhecer mais sobre Mariana Coelho. Dinis escreve bem. Um
bom português, uma linguagem clara, personalizada, desenvolvida e motivadora.
Chegamos ao fim da leitura com a
sensação de que a história desta educadora feminista não está completa, ou
melhor, encontra-se inacabada e, com toda a certeza, muito mais haveria para
dizer quer da sua vida em Portugal, quer da sua vida após a emigração para o
Brasil, até à sua morte, aos 97 anos de idade.
É certo que poderão ter sido
vistas e analisadas pelo autor todas as fontes que encontrou, disso não tenho
dúvidas, dado o seu rigor na investigação científica. Porquê então esta
sensação de incompletude? Aliás, como refere Diniz na nota de Apresentação,
pág.18, 1º e 2º parágrafos, no que se refere á colaboração de Mariana Coelho em
jornais portugueses, escreve: "Fizemos o que era possível para explicar
esta partida com base nos arquivos portugueses, mas não conseguimos encontrar a
colaboração de Mariana Coelho nos jornais portugueses de 1887, quando começou a
publicar, a 1892, ano em que partiu para o Brasil. Falta agora estudar os
arquivos brasileiros de Curitiba e os jornais onde ela e o irmão colaboraram ou
lideraram. Mas isso fica para quem está do outro lado do Atlântico". (Aqui
refere-se a Leonardo Iorio, sobrinho trineto de Mariana Coelho).
Com efeito, das 250 páginas de
texto, dois terços são dedicados á crise do Douro pela invasão da filoxera em
finais do século 19, e, só um terço a Mariana Coelho, à origem da sua família
em Vila Real, Sabrosa ou Lamas de Orelhão, Mirandela, e, à sua vida em Curitiba
para onde emigrou em 1892 como seu irmão mais velho, Carlos Alberto Teixeira
Coelho (1866-1926), e família deste.
Foi professora e educadora,
fundando em 1902, 10 anos após a sua chegada a Curitiba, o Colégio Santos
Dumont, escola de ensino primário e secundário, que prepara alunos para acesso
à Escola Normal e ao Ginásio.
Foi escritora, poetisa, anarquista,
socialista, maçónica e espiritista.
O Feminismo, sua evolução e
emancipação da mulher nas suas diversificadas vertentes interventivas e a
defesa da natureza, animais e plantas, foram os grandes pilares da sua escrita
em fase já de adultidade, pois começou a publicar em 1887, tinha então 30 anos.
Seguidora das ideias de Jacques
Novicow, sociólogo francês, membro e vice-presidente do Instituto Internacional
de Sociologia, e de Sampaio Bruno, aliás, José Pereira Sampaio, diretor da
Biblioteca Municipal do Porto, no que concerne à emancipação da mulher, mas não
as relativas ao amor livre. Concordava com o socialismo nos valores que defendia
pela autonomia e dignidade da mulher.
Viveu Mariana Coelho uma vida
longa (1857-1954) de saudades, no início, da sua vida em Portugal, mas do seu
saber adquirido, levou consigo a força de vencer em terras brasileiras onde se
emancipou e desenvolveu uma intensa actividade docente, social, literária e
política.
A emigração, a que se viu forçada
a sua família pela crise agrícola (filoxera), económica e social da região
duriense, contexto histórico marcante da sua vida, pela falência da Quinta de
Valcovo, Santa Comba da Ermida, sita nas margens do rio Corgo, património rural
de sua mãe, Maria do Carmo Teixeira, pela quebra de rendimentos agrícolas que a
impediu de honrar os seus compromissos, bem assim a morte de seu pai em 1882,
Manuel António Ribeiro Coelho, farmacêutico e grande agricultor de Sabrosa,
contribuíram indubitavelmente para as suas ideias feministas e anarquistas,
envoltas de uma simbiose revoltosa que passou para a sua atividade política e
literária.
Em 1949, Mariana Coelho referia
como escritos por si os seguintes livros: Discursos;
Paraná Mental (cuja 2ª edição o autor
leu, e editado pela Imprensa Oficial do Paraná, Curitiba); Evolução
do Feminismo: Subsídios para a sua
história, editado em 1933 pela Imprensa Moderna, Rio de Janeiro e que
Mariana escreveu aos 76 anos; Um brado de
revolta contra a morte violenta; Linguagem
(Tese que apresentou no Congresso das Academias de Letras e Sociedades de
Cultura Literária do Brasil); "Cambiantes",
Contos e Fantasias, livro mais de carácter intimista; e Palestras Educativas.
Por último, quero lançar um repto
a Aires Antunes Diniz: Não escreverei uma única linha sobre a Filoxera e a
Crise da Vinha no Douro e em Portugal nos finais do século 19, princípios do
século 20, tema deveras importante para se consignar a ser subalterno neste
livro.
Por mim, optaria por 2 obras
distintas: uma, sobre Mariana Coelho, aproveitando os capítulos nºs 1, 6 e 7
desta sua obra a que acrescentaria mais elementos analíticos dos livros
escritos por Mariana Coelho e o seu pensamento; outra, sobre a Filoxera e a
Crise da Agricultura no Douro e em Portugal, que tão bem e pormenorizadamente descreve
nas restantes páginas deste seu livro.
Boa escrita, pois!
Bragança, dezembro de 2015
Maria Idalina Alves de Brito
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