domingo, 22 de novembro de 2015


ENSAIO
Sobre

" A MULHER QUE VENCEU DON JUAN "
de
Teresa Martins Marques

De uma realidade nua e crua, tão longínqua e tão próxima, solta-se, de Trás-os-Montes ao Algarve e, por terras de além mar: Moçambique, Brasil ou Argentina, este romance tridimensional de Teresa Martins Marques, " A Mulher que venceu Don Juan ". O ela, nós e eles, entre elementos ficcionais e pessoas concretas, amadas e conhecidas do eu, na aventura do diálogo constante, directo e indirecto do drama ou do humor, nessa corajosa analogia de palavras com diferentes  valores simbólicos (alma, lama, frio, frois, froid, pág.43). "Tu és eu e eu sou tu" (pág. 79). Leonor caminha pela verdura do amor desalentado e cansado de mãe como em diversos socalcos da verdadeira vida. Quisera que a realidade fosse diferente! Mas, a violência assume contornos diversificados, mesmo na própria casa, e, com as pessoas que mais amamos.
O papel da APAV no apoio contra essas formas de tirania, revê-se na figura da Dr.ª Lúcia e das mulheres vítimas de violência doméstica como Sara, Marta e Odete e, mesmo no Prof. Luís, que transformaram o medo em sobrevivência heroica contida em raiva. Porque: "o amor não é mais forte do que nós. Se deixarmos que o seja, acabou-se a liberdade" (pág.88). Teremos de matar  "esse veneno chamado destino" e "recomeçar, não ter medo de recomeçar. Amanhã é sempre outro dia" (pág.103).
Uma cativante  aventura pelos caminhos da Filosofia, Literatura e Psicologia, evidenciando um imenso conhecimento literário, cultural e histórico, numa linguagem rigorosa e atrativa, que nos prende e suspende às suas páginas, na ânsia da compreensão do desenlace final. São exemplo: o conhecimento da Tavira árabe, o Porto ou a Lisboa de hoje e de ontem; a psicanálise de Freud e a filosofia de Kierkegaard e o seu " Diário do Sedutor " (págs  136, 137, 303 e 304), na interpretação da sexualidade patológica do Don Juanismo (masculino e feminino) e a sua essência teatral e manipuladora, do " não-ser e o não-estar em parte alguma, a não ser em trânsito ", para dominar e violentar o outro: " pássaro e cobra " da sedução, dada a sua incapacidade de amar outrem, a não ser a si próprio, na compulsividade inconsciente de se afastar (reprimir) do objecto do seu desejo: alguém do mesmo sexo, que quere, afinal (pág 234 e 235). Porque, na impossibilidade de " curar " um psicopata do amor "serial lover", o " amar é separar-se, quando do convívio só resulta dor " (pág 302).
Emerge este belo e cativante romance de Teresa Martins Marques, pelos mares bravios da realidade existencial que impiedosa  e cruel, nas diferentes faces de violência e exploração do ser humano, contrasta com os percursos laterais das ondas suaves de amor,  tolerância, solidariedade e liberdade, nunca desistindo de construir um mundo melhor pela dignificação da  vida das pessoas,  numa corajosa ética profissional, missão tão simples e dura de muitos (as) e tendo como lema de vida o de Manuela, numa frase de Eduardo Lourenço: " Não emprestarei os meus joelhos aos ídolos sentados no lugar impossível de Deus".
Parabéns e muito obrigada, Teresa Martins Marques, foste tu a Corajosa e Grande  " Mulher que venceu Don Juan ".

Bragança, 3 de agosto de 2014

Mª Idalina Alves de Brito
(Lara de León)
ENSAIO
REFLEXÕES SOBRE
" A LÓGICA DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E A PLURALIDADE DOS MÉTODOS I "
de
Aires Antunes Diniz

Já se passaram 21 anos desde que DINIZ, Aires Antunes, publicou "A Lógica da Investigação Científica e a Pluralidade dos Métodos I , ou como a filosofia é demasiado importante para ser deixada aos filósofos", 1ª edição, Coimbra, Minerva, 1994. Porquê então falar desta obra, revê-la, reanalisá-la, colocá-la em reflexão no momento presente? É que, as hipóteses nela levantadas, como uma imprevisibilidade de futuro e seus paradigmas, são também a multifacetada e presente realidade. A história da ciência, nomeadamente da ciência económica, perspectiva-se em condicionantes racionais e irracionais, que nos podem levar por caminhos nunca outrora percorridos e a conclusões jamais pensadas, ou se reflectidas, não interiorizadas de concretizações possíveis.
Diniz, utiliza uma linguagem escrita assaz técnica, científica, muito complicada e hermética, só melhor compreensível para a comunidade dos investigadores e cientistas. Usa e abusa da heurística para chegar ao conhecimento científico numa procura insaciável da descoberta. Citações são às centenas (ser citado é ser conhecido? Importante para a comunidade científica, e não só?), justificações, demonstrações.
 O racionalismo procura-se, e, urge em cada palavra, cada frase pensada no muito que se quer dizer na contenção, na síntese da análise filosófica científica, no rigor exaustivo da simplificação metafísica, pelos imensos problemas da incomensurabilidade das teorias. A Filosofia da Ciência é um campo aberto para todas as ciências "demasiado importante para ser deixada aos filósofos", assim como a ética da ciência, a racionalização e a prática na produção científica.
Querendo afastar da ciência o subjectivo, as emoções, impondo uma constante racionalidade, redescobre que ao nível da economia e do mercado, essas razões irracionais são deveras importantes, pois são uma das condicionantes das nossas decisões.
Diniz, enquanto investigador, professor, economista, pretende chamar-nos a atenção para o paradigma da reconstrução da Teoria Económica, fundamentada no extraordinário papel das novas tecnologias na produção científica, baseando esta em valores éticos e deontológicos.
Caminhamos na sua reflexão pela Filosofia de Popper, de Lakatos e de Paul Feyerabend, na análise dos métodos da Dedução e Indução, do Método Marxista na Ciência Económica para nos concentrarmos na Revolução Científica e nas Novas Tecnologias, na Metafísica da Engenharia da Decisão e da Escolha, ou da Nova Engenharia Social, Utopia e Real, como novo paradigma de uma nova teoria.
Vejamos, então.
Mas antes, no Prefácio, era necessário Aires Diniz, essa demonstração de raiva, amargura, para com os inimigos? Sim, como humanos! Ou talvez não, como seres superiores! Inveja? Os meus, os teus, os nossos inimigos, ajudam-nos a evoluir, a criar e cultivar a resiliência, a ter forças para mais e melhor lutar! Os grandes homens e mulheres, também o são, no perdão. Por vezes, as pessoas são tão semelhantes, que não suportam a outra, já que é uma imagem de si própria. Vê-se e revê-se em si, e, não se quer ver. Porque vê as suas qualidades, melhor, os seus defeitos, que não gosta de ver, nem assumir. Deixemos esta análise psicológica para depois! Atitudes pessoais? Sim. Ou melhor, carpe diem!
Diniz fala-nos então dos rituais da produção científica, na práxis ora existente. De que forma se apresenta? O 1º ritual é o da linguagem e a forma de escrita, tendo em consideração os significados dentro do funcionamento social, a relatividade dos significados e significantes, a análise lógica dos textos, e, a estruturação linguística, a qualidade de soluções e reformulação dos problemas (pág.2). O 2º ritual é o da citação, como árvores de citações, que o autor aplica extraordinariamente nesta obra. E que, segundo Laband (1986), o valor científico é medido pelas citações. Permitam-me discordar, não no que se refere a uma análise cronológica de factos, mas à criatividade, conhecimento e imaginação intuitiva que todo o investigador possui ou deve possuir. O 3º ritual (pág.3) é o da publicação em revistas, livros, jornais, etc, utilizando uma retórica literária que seja aceite pela comunidade científica (Malloskey, 1983 e 1985). Mais uma vez é aqui invocado (em nota de rodapé) o extraordinário papel dos inimigos ao descobrirem os nossos erros e fraquezas e a quem não se paga pela sua eficácia na nossa evolução.
Fala-nos no preço de escrever bem, no objetivo do novo marketing que é o apoio ao cliente, na qualidade da produção, sua apresentação e legibilidade. Passa ao uso da linguagem literária e da linguagem matemática, ambas necessárias para a expressão rigorosa e adequada do pensamento, para novamente, em nota de rodapé (pág.4) voltar a referir: "O que aumenta a reputação dos cientistas é a sua aceitação na comunidade científica. Ser citado é ser usado. O uso dos trabalhos que fizeram representa a sua qualidade, medida de acordo com os progressos científicos que provoca... segue a lei de São Mateus. Aquela (instituição científica) quando é prestigiada atrai novos membros com qualidade, quando não o é, perde-os. E, quando impera a lei da mediocridade, expulsa-os". Enfim, a história repete-se tantas e tantas vezes! É que as mulheres e os homens com valor, fazem sombra, não é verdade? Na publicação também é necessário ser rápido, afirmando-se pela originalidade, com cuidado pela fraude e má qualidade dos resultados, uma vez que é necessário publicar para se "poder sobreviver no negócio científico". É a máxima: publish or perish.
Refere-se que Diniz põe em prática, aqui nesta obra, esses 3 rituais como fundamentos essenciais da sua existência enquanto cientista e investigador, criticando e autocriticando-se.
Numa lógica de filosofia da ciência, sempre os filósofos se preocuparam em "reconstruí-la", questionando-se sobre o que se faz, como se faz e o que se deve fazer na evolução das teorias. Por vezes há opiniões ingénuas sobre a ciência e os cientistas, referindo Althusser (1974) no que se refere ao pressuposto de que "as concepções filosóficas / epistemológicas dos cientistas são espontâneas". Porque hoje, mudam todos os paradigmas, quer filosóficos, científicos ou técnicos, já que se encontram "enquadrados em programas de pesquisa, avaliados pelos resultados" (pág.8).
Mas uma coisa é o Normal, outra o Desejável. Inicia a sua exposição com o argumento de que as teorias da realidade prática da investigação científica de Kuhn, Lakatos e Feyerabend foram influenciadas por Popper, passando depois por Bertrand Russel (1912) ou Keynes (1921). Demonstra a paixão pela ciência e pela procura da verdade científica e a sua (autor) nas palavras de Polanyi (1964): "... O papel activo do investigador, numa militância assente em certezas ou crenças que fazem prosseguir projectos de investigação que encontram a sua força numa paixão de descoberta inesgotável que guia as experiências e faz descobrir o improvável". A filosofia questiona pois, os fundamentos científicos existentes, uma "sucessão de gerações: umas constroem teorias; as seguintes refutam-nas e constroem novas teorias. Ou seja, não há falibilistas ou verificacionistas puros: na mesma pessoa existirá um e outro (Merton 1973)".
O que dizer do normal (existente) e o desejável (ética da ciência) nas práticas de produção científica? (pág.9). Voltamos á carreira do cientista: " ...tem que citar e ser citado, ser lido e ler... integrar-se... onde tem o seu emprego... ". Mais, vorazmente, abruptamente, que fere qualquer mortal com valores: " Espera-se que tenha manha e que possa e saiba usá-la. A maneira como usa as ligações que tem e ainda como as inicia, tende a exprimir-se no modo como apresenta e vai valorizar os próprios trabalhos que faz. O fim é agradar à ciência normal ". " Vencer, convencendo da sua integração e integrar a comunidade científica no seu trabalho, obrigando, por citações que faz de outros trabalhos, a que os citados o leiam, ganhando assim notoriedade e aceitação, pois necessita disso. E alguns dizem-no de modo provocatório (Thomas e Nelson, 1985) ". Estas afirmações, dizemos nós, não são só de autores estrangeiros, os nossos nacionais, também o dizem em convívio e, se não o dizem, pensam-no, já que não seria politicamente correcto, referi-lo em público. " Outros, como Rizzuto (1985), fazem a listagem do modo de comportamento do grupo social dos cientistas num aspecto formal, no contexto da prática da citação, como indiciadora de uma prática integrativa: a) Citações do Mestre; b) Um clube de citações; c) Citações de todos os trabalhos anteriores; d) Citações aleatórias  (dos trabalhos de que se lembrou no dia da recolha de bibliografia antes do envio para publicação); e) Citação dentro do contexto de um trabalho de pesquisa de literatura existente;  f) Citação ordenada só de alguns trabalhos e de referências".
Parece que estão a gozar connosco. Ridículo, não? Questionamo-nos: o que é a ciência, para que serve, o que fazem os cientistas, qual a sua liberdade, independência? É apenas um burocrata? Um bajulador do(s) Mestre(s)? Um ser repetitivo de repetições?
Diz-nos Diniz, por vezes, podem rebelar-se contra esta tendência (Anderson, 1991) e podem surgir algumas situações possíveis (Emery e Trist (1965): uma situação de placidez muito espalhada em organizações da nossa comunidade; ou de organizações concentradas, mas ambas sem grande intervenção social; uma reacção a outras organizações, para não ficar para trás; ou a da "permanência do desacordo sob a forma de programas de pesquisa com heurística diferentes, numa perspectiva Lakatosiana" (págs. 10 e 11).
O cientista é pois, um produtor de conhecimentos organizados, um verificador de pensamentos, um utilizador da filosofia, um refutador de metodologias, um actualizador de conceitos e de valores, que vai inserindo na sua produção científica. Mas um " filósofo é também um cientista, já que participa na construção dos métodos de descoberta na heurística (Ayer, 1936).... " O cientista transforma a filosofia especulativa em filosofia científica porque impõe a introdução das formas lógicas e rigorosas de produzir ciência nas práticas de questionamento dos resultados científicos (Reichen Bach, 1951, págs 228 - 229)" (pág.11) mesmo nas ciências sociais " para um maior rigor na produção de resultados ". Para Marx, " opõe-se ciência ao trabalho, já que para aquela está unicamente ligada e é propriedade do capital fixo " enquanto "os trabalhadores não possuíam conhecimentos que lhes permitissem dominar o elemento científico e fazerem a sua desalienação em relação ao seu próprio trabalho ". O processo científico era pois (segundo Marx) " um processo social acima do poder e do entendimento das massas trabalhadoras, onde o capital aprisiona o progresso histórico e o mete ao serviço da criação da sua riqueza " (pág. 13).
Caminhamos agora, após esta síntese analítica introdutória, para a "Lógica da Investigação Científica e a Pluralidade dos Métodos I", começando com o Paradigma /Programa de Pesquisa de Popper, um céptico, criticando o historicismo e a possibilidade de uma ciência social fabricar as leis, dadas as actuações incontroláveis dos Homens. Contra esta lógica de confirmação e da teoria da verisimilitude (Feyerabend, 1978) reagiram hostilmente os economistas, pela destruição de possibilidades da " proliferação dos campos de investigação " (pág. 17). Na verdade, Popper preocupava-se mais com a refutação/falsificação das teorias, como  método de análise, do que com o vocabulário ou significados usados por elas. Esta análise é refutada por Lakatos (1978), baseado na racionalidade, na qualidade da teoria científica que a aceita como " explicativa, funcionando como matriz de análise, ou seja pela heurística ", " uma vez que os cientistas estão permanentemente à procura do método que à partida dá melhores resultados, e que defendem após adopção, quer esta seja racional ou irracional" (pág. 19). Para Popper " não existe, pois, método científico, mas sim procura de teorias que se exponham à refutação como modo de progresso científico " (Popper, 1972).
Marx, segundo ele, no campo da ciência social "era um historicista apanhado por Hegel nas suas malhas, um conspiracionista não dogmático, que sabia que aqueles que participavam no jogo social não eram autónomos para definir o devir social ". Entendia que o processo de produção científico era isolado dos aspectos sociais, ao contrário de Kuhn (pág.20). Neste paradigma, " parte-se de uma sociologia da produção de conhecimentos para uma justificação ética de grupos de investigadores e da própria produção científica, ou seja, negando a possibilidade de uma qualquer tecnologia social alterar os conteúdos e a própria produção científica " (Merton, 1973).  " Kuhn acaba por justificar a formação de grupos sociais de cientistas, os quais se autoimpõem uma lógica castradora da ciência mais preocupada com uma regulação do método científico admissível e menos com a aplicação do método científico mais eficaz ". Ou seja, realiza uma crítica acérrima à comunidade científica que tenta manter o seu status quo: a ordem científica, a casta (Kuhn, 1970, Lakatos, 1978). O seu pensamento permite " a integração numa visão democratizada do processo científico, em que todos os cientistas têm capacidade de participar sem problemas nas cadeias de comando, que apesar de serem informais, são extremamente poderosas na determinação das linhas de pesquisa e dos resultados aceitáveis pela comunidade científica  " (pág.22).
Ao contrário de Popper, para Diniz, Lakatos é uma " personalidade " optimista e prática do acto de conhecer, analisadora do funcionamento concreto da prática da investigação mais ou menos filosófica ", criando uma metodologia dos programas de pesquisa, pelas "refutações expressas pelos contraexemplos que só são introduzidas por elementos mais jovens da comunidade científica, que são sociologicamente os motores do progresso " (Merton, 1963), utilizando como exemplo um problema de heurística em matemática. " O método de Lakatos construído para funcionar nos programas de pesquisa científica, tem 3 componentes: 1ª o que pode ser testado; 2ª o que é aceite; 3ª uma heurística do programa de pesquisa ". " As teorias crescem por incorporação de novos conteúdos falsificáveis. Ou seja, pelo método de análise - síntese... um mecanismo sem fim " ( Lakatos, 1978). Estes Programas de Pesquisa, devem ser progressivos (Keynes e Walras) e não degenerescentes (Marshall), isto é, devem ter capacidade de produzir conhecimentos (pág.27). " Lakatos incorpora e racionaliza a contestação de Feyerabend a uma visão redutora da pesquisa científica por parte de Popper e não revolucionária e conservadora por parte de Kuhn, embora com variantes... ". Estes programas de pesquisa vão apoiar-se futuramente na análise dos processos de cognição e processamento de informação, e muito do que hoje observamos vai deixar de ser relevante no futuro, porque diferentes serão os modos de ver os factos (Kukla e Gilmam, 1992).
Continua Diniz: " Paul Feyerabend contesta a existência de um único método ou paradigma, propondo uma procura sistemática dos diversos métodos com abandono dos que não forem eficazes ". Também não aceita " a teoria de Kuhn das ciências normais, como limitadoras da eficácia e da liberdade dos cientistas, limitados pelo uso dos dinheiros públicos que poderão limitar o uso do dinheiro na investigação ". Para Diniz, " Feyerabend é o menos limitado dos filósofos na procura de novas metodologias de pesquisa científica", " entende Lakatos e os seus programas de pesquisa, como teorias a tratar de modo não dogmático " e " expressa a liberdade individual dos cientistas pela critica às ideias de Kuhn ". Com efeito, " a única metodologia correcta neste impasse será sempre procurar caminhos ou métodos que funcionem... numa sociedade de livre escolha, onde se procura a democratização do processo de produção e escolha dos conhecimentos a produzir ". 
Aqui o autor lança novo ataque à comunidade de cientistas instalados, assaz crítico, devorador, dos oportunistas da ciência e que dela se aproveitam para benefício próprio.
Feyerabend refere que os mecanismos fundamentais da descoberta, são a " metodologia e a educação para uma maior liberdade " . " Significados, significantes, metodologia, enquadradas por uma educação libertada de preconceitos, permitem descobrir novos caminhos de descoberta, sem monocentramentos em culturas e nos métodos que as enformam ".
Diniz, passa depois à defesa de Feyerabend, relativamente a Carlos Fiolhais (pág. 35), que refere que o " Adeus à Razão" é mais sério que o " Against Method ", que foi publicado pela 1ª vez em 1975 e pelo qual se " apaixonou ".  Transcrevo Diniz : " Fui seduzido pela sua linguagem fina, soberba e escorreita, numa estrutura lógica e organizada, tecida meticulosamente, numa procura persistente da trama honesta e rigorosa com que faz o ataque ao método unicriterial ". Feyerabend é contra o método, não contra os métodos, pois defende a sua proliferação e a competição entre eles, procurando o que dá melhores resultados numa "cultura multicêntrica " (pág. 37).
Passa o autor, de seguida, à análise tradicional do processo de produção científica e aos métodos gerais de pesquisa na produção científica, que são 2: a dedução e a indução.
A Dedução tem por base a coerência, sendo esta o mais certo. " Parte-se do princípio que a própria análise da coerência é já um teste da sua verdade ". A matemática é por sua natureza um treino do " raciocínio numa certa ordem, decidir fazer certas operações no momento certo ". " pensar logicamente significa pensar a partir de relações e/ou fórmulas matemáticas ". Daí, a necessidade de um espírito metódico e da importância do computador, dando ao investigador de forma rápida, resultados rigorosos e probabilizados que controlam o seu trabalho, dão novas certezas quanto ao rigor dos estudos empiricamente comprovados e dão-lhe indicações sobre o trabalho que deve seguir.
A Indução, conforme Popper, parte de deduções de uma teoria para a sua verificação. A indução pelo uso, cria mecanismos de confirmação (Rescher, 1980).
Cada ciência tem a sua heurística, sendo ou não comum a outras ciências, há sempre algo que lhe é própria, como por exemplo: nas ciências do social, caso da Economia e da Sociologia.
Os cientistas vão procurar os fundamentos da ciência (episteme) nas suas crenças (doxas), pondo-as em competição de modo a encontrar um programa de pesquisa que as integre, criando a episteme, fazendo assim eles próprios o trabalho epistemológico (Teoria do Conhecimento).
Em síntese, " a produção da ciência pode ser entendida como uma actividade de procura de factos, relações e teorias, programada ou não dentro de uma heurística conduzida por uma lógica de pesquisa, tendendo sempre a ser programada de acordo com o que é conhecido, ou seja, a transformar-se, passando de problemas mal estruturados a problemas bem estruturados ".
 Sendo fundamental o valor da honestidade intelectual, " o investigador domina um código que constrói e reconstrói, uma linguagem e uma técnica de raciocínio e por isso é extremamente importante o questionar da técnica de pensamento, as regras de computação nos seus fundamentos, já que é preciso saber quanto ao modelo de pensamento, inserido na questão geral da sua validade: - Se o programa de pesquisa não esgotou já as suas potencialidades heurísticas ?".
Para Diniz, neste confronto de métodos, há algumas ideias a reter: o computador integra-se em quase todas as heurísticas para potenciá-las;  a indução é o método correcto nas situações de escassez de informação, ou de custo de análise elevado, medido em dinheiro e/ou tempo, em termos de tratamento e ordenação; a quantidade de usos (ex: experiências) não significa mais do que isso, não se transforma, por si só, esse facto em qualidade; deve-se por isso, relativizar e não absolutizar estas qualidades inseridas numa nova heurística ; a possibilidade de refutação é sempre a afirmação de algo de que temos informação.
" A refutação das filosofias da ciência e da produção científica cabe aos cientistas, assim como a sua reconstrução e alargamento para entrada de novos dados, numa procura implícita de sucessiva reformulação dos programas de pesquisa... A verificabilidade é em ciência económica, feita pelo confronto entre realidade e teoria, ou pela análise da sua coerência. A experimentação é o mecanismo que permite descobrir os limites de validade de uma teoria e refutá-la ou confirmá-la limitadamente. E o acto de pensar é um acto de codificação e descodificação ". Na racionalidade económica encontramos afirmações contraditórias. Exemplos: 1º o pleno emprego é desejável, 2º, mas o pleno emprego é impossível - 2 aspectos da mesma realidade;  1º convém maximizar o lucro, 2º o lucro máximo é o nosso objectivo. O acto de conhecer é o acto de qualificar, de tornar clara a realidade e, se possível, de a quantificar (objectivo da análise contabilística).
O acto de pensar pressupõe a realidade. O acto de pensar tem a ver com juízos de realidade. No acto de construção de teorias, pressupomos a existência dos valores, damos-lhe um modelo explicativo, desprezamos certos dados e procuramos os essenciais. O processo de análise do programa de pesquisa científico é racionalizador das suas práticas, assim como a análise dos processos de decisão empresarial podem dar achegas a uma racionalização do processo de produção científica.
A testabilidade é construída dentro das condições de construção de teorias do investigador. Por isso é necessário que os instrumentos de medida sejam aperfeiçoados e também a linguagem em que são expressos, as teorias e, nestas, as relações entre os números em que se estudam os factos e a realidade denotada.
A construção científica tem assim um processo de construção, ou gramática que vai cobrindo as suas necessidades chegando, por vezes, a situações em que essa gramática não funciona, quer por dificuldades conceptuais, quer por falta de instrumentos de análise. Daí a análise dos conceitos, aqui a introdução de novos significantes e significados que vão permitir a análise da realidade, terminando o conflito entre o texto e a realidade a definir. A verificabilidade é em ciência económica feita pelo confronto entre realidade e a teoria, e/ou também pela análise da sua coerência. A construção da ciência é sempre baseada numa tecnologia de construção da verdade, aceite por todos aqueles que participam na sua construção, mas que vem a ser uma linguagem quase universal das ciências empíricas e das ciências dedutivas, conforme os casos (pág.62).
Segue-se uma análise à teoria e prática contabilística, bem assim a aplicação dessa análise à economia. Quanto à 1ª, serve-se da análise de textos, documentos, facturas, recibos, da comprovação física das existências do capital circulante e fixo, dos documentos comprovativos dos elementos imateriais, como os créditos, patentes, despesas antecipadas, provisões e amortizações. Quanto à 2ª, surge a dificuldade de medir o património, custos e proveitos, ou seja, o renascer da velha questão dos reditualistas e patrimonialistas. Aqui, no domínio dos valores éticos, os significados que comandam a acção ou decisão, são construídos pela ideologia dominante (pág. 62). O risco no campo da economia é algo que não deixa de determinar o modo de decisão de investigar. O papel da incerteza depende do grupo social e do modo como este é integrado no modelo de decisão deste, dando valores diferentes para a variável a maximizar, isto em função do comportamento provável determinado pelo risco de perder. Temos que criar comportamentos éticos com valores passíveis de controlos. Contudo, podemos isolar o empírico do que é puramente raciocínio, a partir do momento em que possamos definir uma decisão sem ter que definir os processos de tomada de decisão (pág.65).
Então a linguagem, quer qualitativa quer quantitativa, é elemento determinante desta racionalização que altera os comportamentos e os determinismos, alterando as situações e as racionalidades.
Por isso, diz Diniz: " Toda a ciência é um cálculo lógico baseado na linguagem que introduz factores de realismo na descrição da realidade, aumentando a simplicidade, ou a variedade de situações em estudo, ou os processos de tomada de decisão em termos cognitivos e comportamentais, variando os riscos, mesmo na matemática, que se quer adequada á complexidade das situações, sendo a dedução baseada nos mecanismos automáticos de decisão: o falso e o verdadeiro". " A linguagem, com as palavras e a sua gramática, é o mecanismo de tomada de decisão, que convém analisar como primeiro passo para a epistemologia da ciência, a sua correcção, os domínios onde se aplica, onde se vai estender e em que circunstâncias. A Matemática, e toda a ciência, é uma gramática em que a análise dos elementos relacionais é necessária ".
Diniz, passa depois para o exemplo da análise marxista: que escolheu como heurística a análise das relações de produção. Estas relações, no dizer de Popper, são dados existenciais (Popper, 1959), portanto não refutáveis, e, a partir daí, apresenta um conjunto de explicações para factos reais. O marxismo concentra a sua existência no método e na sua aplicação, e todo ele é orientado para a análise das relações de produção, com as consequentes relações de poder e de distribuição da riqueza, daí levar a concluir que existe uma determinada leitura da realidade. Os modelos de Lakatos no campo da refutabilidade, dado o método e o ponto de partida não estão assim afastados da possibilidade de serem aplicados ao Marxismo, e até Popper distraidamente o admite, em relação aos seus critérios científicos.  O Marxismo escolheu como pontos de testabilidade a diminuição do valor da taxa de lucro, a alienação dos trabalhadores, a instabilidade do capitalismo, o aumento da mecanização, a monopolização da economia, a formação de um exército de reserva e a crescente miséria relativa da classe trabalhadora (Meek, 1967, 1973) (pag. 68).
Podemos concluir que a construção das teorias depende da heurística, do método ou métodos, dos dados da experiência, dos instrumentos e medida.
A racionalidade nas ciências sociais é o entrecruzar-se de diversas racionalidades.
Numa análise às novas formas de exploração da força de trabalho, uma nova racionalidade do capitalismo, podemos referir: o trabalho é cada vez mais intelectualizado; o investidor é condicionado pela necessidade de segurança; a sua estratégia é no sentido da minimização do risco e maximização do rendimento.
Diniz, expõe-nos de seguida, uma síntese conclusiva do que até ali tinha dito (págs. 76,77 e 78): toda a ciência é um cálculo lógico baseado na linguagem; a linguagem e a gramática são mecanismos de tomada de decisão; a matemática é uma gramática em que a análise dos elementos é necessária; os dados de raciocínio devem ser construídos de forma intelectualmente honesta; os mecanismos de demonstração têm de ser analisados conforme cada ciência; cada uma delas vai-se adaptando ás tecnologias disponíveis; a tomada de posição é definidora das metodologias ou das heurísticas; a validade do modelo depende da sua refutação; toda a ciência tem um método de produção e avaliação de resultados; a metodologia necessita de prática social; os cientistas não têm uma filosofia espontânea, mas avaliada pela sua utilidade que decorre do seu uso.

Passamos à 2º parte desta obra:
" A introdução das novas tecnologias provocou o desenvolvimento de metodologias alternativas de análise filosófica da investigação científica ". É a forma como se faz o processo cognitivo que determina o processo científico. A teorização dos fractais, por ex.,  permite reorientar o estudo de novas combinações físicas, assentes nas modelizações matemáticas explicativas de comportamentos anómalos e/ou turbulentos de certos fenómenos.
" A questão fundamental da investigação científica é a heurística como instrumento de produção de conhecimentos ". Conhecimentos que pretendem fundamentalmente racionalizar a actividade humana. O investigador científico, define e concretiza os objectivos cognitivos e de operacionalidade da produção científica, acompanhados de valores éticos e estéticos. Racionalidade como heurística e critério de qualidade. A caridade é não racional: " acto de dar sem receber nada em troca ". Mas na economia social há uma lógica de racionalidade: prestar o melhor serviço pelo gestor e o contribuinte ter benefícios fiscais. Optimizar os recursos dos doadores. Outra lógica é a do roubo, que é a obtenção de rendimentos sem trabalho directo ou indirecto, considerando o que é racional de modo impróprio e vice-versa. " A racionalização do discurso é feita a partir da linguagem operativa da observação, quer da linguagem axiomática da dedução ".
A heurística é um conjunto de instrumentos teóricos de pesquisa que permitem fazer a definição de uma situação, com ou sem determinação de uma racionalidade que apresente potencialidades de com estes conhecimentos se atingirem determinados objectivos. A heurística apoia-se na sua conceituação, na tecnologia de base que lhe dá forma e a potencia. Actualmente a heurística funda-se na informação e na computabilidade desta informação, posteriormente nos resultados alargados a que dá origem, com o preenchimento sistemático de todos os vazios de informação.
A decisão é uma forma de condicionar o meio envolvente através da procura de soluções e actuações, acompanhadas de formas de comunicação de ordens, conseguindo, dessa maneira, controlar o devir social dos problemas, onde há um tipo diferente de acção que pode alterar o devir das probabilidades, de condicionar os efeitos das actuações futuras pela previsão das acções do adversário.
A psicologia tem de estar ligada ao fenómeno económico como fundamento de uma racionalidade de decisão que se transforme em acção.
Bela similitude: - Conclusão para Diniz: nem todas as revoluções são para ser feitas, nem todas as mulheres devem ser conquistadas (!!!) E os homens, pergunto eu? Devem ou podem, ou querem,  ser conquistados?
A linguagem científica é a continuação da linguagem do senso comum, procurando o rigor como meta. As metáforas permitem escrever e ensinar melhor.
Continua Diniz: A engenharia da escolha resulta de uma sucessiva evolução de uma análise estatística, que se apoia na concepção de utilidade, de probabilidade e de uma racionalidade, juntas num modelo optimizador levam a escolher um máximo de utilidade. A engenharia dos processos de decisão, é uma engenharia da escolha, análise da consequência lógica de decisões, onde se incorporam elementos de jogo que permitem, para quebrarem a rigidez das regras decisionais, aumentar a capacidade de descobrir novas actuações e decisões, com maior poder racionalizador (March, 1971) (pág. 95).
Diniz introduz aqui a metafísica como elemento de ligação entre a ciência e a vida de cada dia. A metafísica de Kuhn é constituída pela ideia de um grupo básico de cientistas, possuidores de um paradigma, reunido numa matriz heurística, com alguns enigmas para resolver. Em Kuhn não é importante a heurística, mas sim o paradigma, que serve de traço de união dos cientistas que resolvem problemas que lhes são dados pela sociedade. A metafísica produzindo questões científicas, é o principal da ciência e os cientistas, os seus agentes.
Para permitir um maior grau de certeza, os filósofos tentam criar uma teoria atemporal do que se passa no trabalho dos cientistas, descrevendo o que fazem e pretendendo racionalizá-la (pág.104).
De uma forma geral, são as comunidades científicas que criam as normas e as formas de aprovação dos resultados que nascem em resultados de interesses sociais que os usam no seu quotidiano. As comunidades científicas crescem demograficamente em termos absolutos e relativos em função da aprovação social da qualidade e validade no uso quotidiano. A ciência é cada vez mais uma forma de vida, os cientistas prosseguem o seu interesse próprio na investigação. O seu trabalho está inserido na vida social e económica, mola real de uma forma de vida assente na inovação como forma de resolver os problemas práticos (Taylor, 1973). A ciência fornece não só as formas de produção, mas também os mecanismos de controle dessa mesma produção. A produção científica funciona, como qualquer produção, com custos e proveitos, com capital e com trabalho, com uma racionalidade que lhe é imposta pela sociedade científica, pelo mercado, pelo político, tudo expresso em orçamentos (Diamond, 1988). A Escola é o local onde os conceitos de uma produção científica são ensinados. Ensinar a pensar é o papel da Escola. Qualquer tipo de raciocínio: o estatístico e o lógico.
Para Diniz, nada é impossível, neste final da 2ª parte. O conceito de paradigma nasceu para ser quebrado. Quebrar paradigmas é fazer proliferar as formas diversas de fazer andar a racionalidade e por novas formas de usar as novas tecnologias da informação. A sua capacidade de cálculo e a sua rapidez e operacionalidade é fundamental na construção do novo paradigma desta era turbulenta. Este é o resultado da desconstrução dos anteriores ou do fim destes, do princípio da infinita proliferação dos programas de pesquisa.

No início da 3ª parte, Diniz volta á utopia e ao real na análise marxista (pág.111). Refere que, nas novas relações de produção, há necessidade de falar em relações entre agentes e principais. O agente representando o trabalhador e o principal representando o patrão. Os direitos de propriedade, passaram a ser direitos de controle. Ser dono é ser controlador. Defender os direitos de propriedade é a condição para o desenvolvimento de um mercado de capitais. Gerir o uso de bens públicos ou colectivos é difícil, porque estes, pela sua natureza, não são distribuíveis a retalho, mediante um preço dependente do seu uso. Na relação de agente e principal, podem surgir dois tipos de problemas básicos dentro do esquema geral de um possível oportunismo: o agente comporta-se de acordo com os seus interesses e não de acordo com os interesses do principal. O 1º problema é o azar moral, que consiste em ter de dar informação a um agente que se comporta dentro de um esquema previamente elaborado com desvios, o azar moral para o controle em que o principal tem informação suficiente; o 2º, a selecção adversa, em que o principal não tem a informação suficiente.
Por isso, monitorar e observar são agora as palavras chave. A nova lógica social terá assim que gerir 3 factores ou elementos estruturantes: o mercado, as hierarquias (ou estruturas organizativas) e o político. É da capacidade de gerir, fazer competir e integrar estes factores, que pode surgir uma tecnologia social realista e operacional. Já não é uma simples engenharia, mas uma tecnologia que é racionada a um nível mais elevado e portanto com uma nova capacidade heurística.
Cria-se assim uma nova teoria económica: o paradigma dos agentes principais (Ricketts, 1987). O programa de pesquisa nascente, despoleta um novo paradigma explicativo, designado por economia da organização, onde aparecem, como sub-programas de investigação, agora com ligação aos dados psicológicos e sociológicos da análise do homem em organização (Sociologia das Organizações) e do controle dos seus aspectos mais negativos: o desleixo e a desonestidade (Donaldson, 1990), o que se passa necessariamente por um novo sub-programa: o da análise do papel da moral na organização e estruturação das relações entre agentes e principais (Kahn, 1990). Neste contexto, os valores da verdade são um objectivo da investigação.
O fundamento da predictabilidade dos comportamentos racionais dos diversos actores é a assumpção da existência de um modelo assente na utilidade dos resultados das decisões, que pode ser probabilizável, porque mensurável na incerteza, racionável de acordo com propósitos claros, que leva a evidências de resultados com expressão quase completa das suas limitações (pág. 114). Daí a teoria económica da organização para lidar e resolver os problemas de controle (Knight, 1925). Os interesses dos homens são o mecanismo fundamental de causa de gestão e de mudança, condicionando e apoiando-se nas relações interpessoais, contrariando os dados dos problemas, sempre numa pluralidade de causas que influenciam o resultado final. Por isso, resume o seu pensamento dizendo que a compreensão, predição e controle do pensamento e emoção, comportamentos humanos, são uma arte, que incluem a comunicação mental.
Diniz volta ao marxismo para nos dizer que se renova como modelo e como programa de pesquisa: A Tragédia é uma purga que destrói a força do poder revolucionário (revolução 1917) atacado por dentro do partido por aqueles que procuram o poder, num esquema oportunista, motivado fundamentalmente pela satisfação de interesses pessoais. A purga é desencadeada por forças que têm tudo a ver com o secretismo. As falhas do socialismo ou da hierarquia:  Marx não compreendeu que o progresso técnico se incorporava numa mão de obra cada vez mais culta, mas também esta lei não é só por si verdadeira, pois o trabalho sofre simplificações por via da tecnologia que a partir do complexo simplifica, o que contraria a efetivação desta lei tendencial. A tecnologia é assim, a construtora e reconstrutora das novas relações sociais.

Diniz, em resumo conclusivo, nesta obra:
Falou do Normal e do Desejável na produção científica. Observou a Ética da Ciência e as práticas de produção científica. Falou da filosofia de Popper e Lakatos no social e político. Questionou o programa de pesquisa de Popper e reanalisou a sociologia /psicologia do fenómeno científico. Descobriu a filosofia de Paul Feyerabend e a sua expressão marginal pela retoma da análise do significado como condicionante da análise qualitativa e quantitativa do empírico. Fez o estudo dos métodos da pesquisa e produção científica, com eleição de dois grandes métodos: a dedução e a indução. Fez a confrontação dos métodos em Popper e Lakatos. Realizou a análise da prática da Filosofia na Ciência Económica. Voltou à análise do modelo marxista com Popper e Lakatos, reanalisando as novas formas de exploração da força de trabalho, procurando uma nova racionalidade no capitalismo. Analisou a engenharia da decisão e a economia como fundamento da engenharia económica ou da gestão. Reestudou a linguagem como elemento base da Ciência Fundamental e da Engenharia da Escolha e, ainda, a Metafísica como fundamento dos paradigmas e dos programas de pesquisa. Questionou a Engenharia da Escolha como base de uma nova Engenharia Social. Como base de uma utopia, as novas tecnologias e novos programas /paradigmas de pesquisa ou reformulação filosófica. Fez nova incursão pela Economia da Ciência e chegou à Engenharia dos Recursos Humanos, reencontrando a Escola, agora como produtora de habilidades. Alegrou-se porque sentiu que nada é impossível. Discutiu a Utopia e o Real, assentes num novo paradigma que gera programas de pesquisa ou num novo programa de pesquisa que gera paradigmas, reencontrando a nova teoria Económica e a gestão do real e reencontrou a questão da Gestão na Construção da utopia, depois de, mais uma vez, ter sofrido com a tragédia.

Volvidos 21 anos desta análise, perspetivando-a numa visão ideológica marxista, se bem com vertentes criticas na investigação nas ciências sociais, nomeadamente na economia e sociologia, confrontando-a com outras teorias mais ou menos recentes e reformuladas, podemos acrescentar: há necessidade de novas reflexões, propor novos paradigmas, criar ciência, pois o conhecimento não tem limites na sua inumerabilidade e incomensurabilidade. Foi um maravilhoso percurso, se bem que nada fácil, seguir esta análise do pensamento de Aires Antunes Diniz.

Maria Idalina Alves de Brito
Bragança, setembro a novembro  2015